Copyright Disclaimer

Do not reproduce any of my texts published here. Plagiarism will be detected by Copyscape.



terça-feira, outubro 30, 2012

Cecilia Meireles - Aniversários


Nome completoCecília Benevides de Carvalho Meireles
Nascimento7 de novembro de 1901
Rio de Janeiro
Morte9 de novembro de 1964 (63 anos)
Rio de Janeiro
Nacionalidade brasileiro(a)
(fonte/wikipedia)




SONETO ANTIGO

Responder a perguntas não respondo.
Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.

Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.

O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo
caminhos invisíveis por onde ando.

Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento.
Cecília Meireles

segunda-feira, outubro 29, 2012

A Mulher de Lata e as Virtudes Cardeais



A Mulher de Lata
e as Virtudes Cardeais

©Soaroir de Campos

SP/SP 27/10/12

imagem/Net



O cachorro me acordou às cinco. Providencial já que coincide com a hora que devo engolir“ciprofloxacino” para combater um ataque de mau imunodepressor,entre outros, segundo a Net, porque remédio da rede publica não vem com bula e as informações impressas no verso da cartela metálica não se consegue ler, o que de certa forma é uma benção. A última bula que li trazia 1% de benefícios e 99% de possíveis danos colaterais.

Não dá para voltar para a cama embora estejamos no horário de Verão, fato que o cachorro desconhece e insiste em querer descer, mas eu, ainda que toscanejando, aproveito o silêncio para dar ouvidos ao que repentinamente, como vazamento de um dique, goteja pelas brechas do meu inconsciente enchendo minha moringa e latas, então me rendo à análise das injúrias, das injustiças e das maldades que me intoxicaram ao me calar.

 

Ainda tentando me esquecer das sovinices eu me dou conta de que a temperança que nos aconselha ao domínio da vontade sobre os instintos também nos induz a nos acumpliciarmos com a violação das demais Virtudes Cardeais, principalmente a justiça que hoje mais nos amedronta do que nos avigora, quem com seus inaccessíveis e impermeáveis rábulas que nos encurralam ao cunhal da insignificância e então entregamos calados o que a nós pertence.

 

Resta-nos a fortaleza que criamos quando em folhas de flandres nos revestimos para manter a firmeza e a perseverar em discernir, em quaisquer circunstâncias, o certo do errado e então escolher os meios para autodefesa e a sobrevivência digna e saudável. No entanto, às vezes explodimos!

 

Dizem que esquecer ofensas depende da nossa memória e acabo de me lembrar de que preciso descer com o cachorro que, não age por maldade, perdoa, mas jamais esquece os maus tratos.

Vamos Chuko, vamos mijar no mundo...

 

 

 





 
A Mulher de Lata
E as Virtudes Cardeais (EC)
©Soaroir de Campos
SP/SP 27/10/12
 
 
(Este texto faz parte do Exercício Criativo - "A Mulher de Lata"
Saiba mais, conheça os outros textos:
http://encantodasletras.50webs.com/mulherdelata.htm)

quinta-feira, outubro 25, 2012

A Poesia ainda há de Salvar o Mundo



Aos Poetas Contemporâneos
Copyright Soaroir – Outubro/2012


Andrea Mantegna - El Parnaso
- Cuadro 790856- fonte/google




De Byron a Puskin, de Esopo à Nilza Azzi;

violenta ou apaixonadamente com, ou sem, hesitações -

ele obedece à irresponsabilidade do impulso -

e navega - sem quaisquer naves ou portos.



E,

manda cartas sem esperar resposta;

segura as rédeas, independente dos solavancos,

segue, rua a baixo, com suas certezas:



- a Poesia ainda vai mudar o Mundo...



Ele, poeta -

humano fragmentado -

como qualquer outro humano;



aquele, que do útero ao berço

da vida a cova

segue seguro (de que):



- a Poesia ainda vai salvar o Mundo...

Leitor e Escritor Mandamentos

Reprodução

terça-feira, 20 de outubro de 2009

30 mandamentos para ser leitor, escritor e crítico

Yiu Rojas



Decalógo do leitor

Por Alberto Mussa


I - Nunca leia por hábito: um livro não é uma escova de dentes. Leia por vício, leia por dependência química. A literatura é a possibilidade de viver vidas múltiplas, em algumas horas. E tem até finalidades práticas: amplia a compreensão do mundo, permite a aquisição de conhecimentos objetivos, aprimora a capacidade de expressão, reduz os batimentos cardíacos, diminui a ansiedade, aumenta a libido. Mas é essencialmente lúdica, é essencialmente inútil, como devem ser as coisas que nos dão prazer.

II - Comece a ler desde cedo, se puder. Ou pelo menos comece. E pelos clássicos, pelos consensuais. Serão cinqüenta, serão cem. Não devem faltar As mil e uma noites, Dostoiévski, Thomas Mann, Balzac, Adonias, Conrad, Jorge de Lima, Poe, García Márquez, Cervantes, Alencar, Camões, Dumas, Dante, Shakespeare, Wassermann, Melville, Flaubert, Graciliano, Borges, Tchekhov, Sófocles, Machado, Schnitzler, Carpentier, Calvino, Rosa, Eça, Perec, Roa Bastos, Onetti, Boccaccio, Jorge Amado, Benedetti, Pessoa, Kafka, Bioy Casares, Asturias, Callado,Rulfo, Nelson Rodrigues, Lorca, Homero, Lima Barreto, Cortázar, Goethe, Voltaire, Emily Brontë, Sade, Arregui, Verissimo, Bowles, Faulkner, Maupassant, Tolstói, Proust, Autran Dourado, Hugo, Zweig, Saer, Kadaré, Márai, Henry James, Castro Alves.

III - Nunca leia sem dicionário. Se estiver lendo deitado, ou num ônibus, ou na praia, ou em qualquer outra situação imprópria, anote as palavras que você não conhece, para consultar depois. Elas nunca são escritas por acaso.

IV - Perca menos tempo diante do computador, da televisão, dos jornais e crie um sistema de leitura, estabeleça metas. Se puder ler um livro por mês, dos 16 aos 75 anos, terá lido 720 livros. Se, no mês das férias, em vez de um, puder ler quatro, chegará nos 900. Com dois por mês, serão 1.440. À razão de um por semana, alcançará 3.120. Com a média ideal de três por semana, serão 9.360. Serão apenas 9.360. É importante escolher bem o que você vai ler.

V - Faça do livro um objeto pessoal, um objeto íntimo. Escreva nele; assinale as frases marcantes, as passagens que o emocionam. Também é importante criticar o autor, apontar falhas e inverossimilhanças. Anote telefones e endereços de pessoas proibidas, faça cálculos nas inúteis páginas finais. O livro é o mais interativo dos objetos. Você pode avançar e recuar, folheando, com mais comodidade e rapidez que mexendo em teclados ou cursores de tela. O livro vai com você ao banheiro e à cama. Vai com você de metrô, de ônibus, e de táxi. Vai com você para outros países. Há apenas duas regras básicas: use lápis; e não empreste.

VI - Não se deixe dominar pelo complexo de vira-lata. Leia muito, leia sempre a literatura brasileira. Ela está entre as grandes. Temos o maior escritor do século XIX, que foi Machado de Assis; e um dos cinco maiores do século XX, que foram Borges, Perec, Kafka, Bioy Casares e Guimarães Rosa. Temos um dos quatro maiores épicos ocidentais, que foram Homero, Dante, Camões e Jorge de Lima. E temos um dos três maiores dramaturgos de todos os tempos, que foram Sófocles, Shakespeare e Nelson Rodrigues.

VII - Na natureza, são as espécies muito adaptadas ao próprio hábitat que tendem mais rapidamente à extinção. Prefira a literatura brasileira, mas faça viagens regulares. Das letras européias e da América do Norte vem a maioria dos nossos grandes mestres. A literatura hispano-americana é simplesmente indispensável. Particularmente os argentinos. Mas busque também o diferente: há grandezas literárias na África e na Ásia. Impossível desconhecer Angola, Moçambique e Cabo Verde. Volte também ao passado: à Idade Média, ao mundo árabe, aos clássicos gregos e latinos. E não esqueça o Oriente; não esqueça que literatura nenhuma se compara às da Índia e às da China. E chegue, finalmente, às mitologias dos povos ágrafos, mergulhe na poesia selvagem. São eles que estão na origem disso tudo; é por causa deles que estamos aqui.

VIII - Tente evitar a repetição dos mesmos gêneros, dos mesmos temas, dos mesmos estilos, dos mesmos autores. A grande literatura está espalhada por romances, contos, crônicas, poemas e peças de teatro. Nenhum gênero é, em tese, superior a outro. Não se preocupe, aliás, com o conceito de gênero: história, filosofia, etnologia, memórias, viagens, reportagem, divulgação científica, auto-ajuda – tudo isso pode ser literatura. Um bom livro tem de ser inteligente, bem escrito e capaz de provocar alguma espécie de emoção.

IX - A vida tem outras coisas muito boas. Por isso, não tenha pena de abandonar pelo meio os livros desinteressantes. O leitor experiente desenvolve a capacidade de perceber logo, em no máximo 30 páginas, se um livro será bom ou mau. Só não diga que um livro é ruim antes de ler pelo menos algumas linhas: nada pode ser tão estúpido quanto o preconceito.

X - Forme seu próprio cânone. Se não gostar de um clássico, não se sinta menos inteligente. Não se intimide quando um especialista diz que determinado autor é um gênio, e que o livro do gênio é historicamente fundamental. O fato de uma obra ser ou não importante é problema que tange a críticos; talvez a escritores. Não leve nenhum deles a sério; não leve a literatura a sério; não leve a vida a sério. E faça o seu próprio decálogo: neste momento, você será um leitor.



Decálogo do autor

Por Miguel Sanches Neto


Depois de leitor, você pode se tornar, então, escritor– embora, pasme, muitos hoje pulem a leitura, por julgá-la dispensável, e já desejem publicar

I - Não fique mandando seus originais para todo mundo.Acontece que você escreve para ser lido extramuros, e deseja testar sua obra num terreno mais neutro. E não quer ficar a vida inteira escrevendo apenas para uma pessoa. O que fazer então para não virar um chato? No passado, eu aconselharia mandar os textos para jornais e revistas literárias, foi o que eu fiz quando era um iniciante bem iniciante. Mas os jovens agora têm uma arma mais democrática. Publicar na internet. Há muitos espaços coletivos, uma liberdade de inclusão de textos novos e você ainda pode criar seu próprio site ou blog, mas cuidado para não incomodar as pessoas, enviando mensagens e avisos para que leiam você.

II - Publique seus textos em sites e blogs e deixe que sigam o rumo deles. Depois de um tempo publicando eletronicamente, você vai encontrar alguns leitores. Terá de ler os textos deles, e dar opiniões e fazer sugestões, mas também receberá muitas dicas.

III - Leia os contemporâneos, até para saber onde é o seu lugar. Existe um batalhão de internautas ávidos por leitura e em alguns casos você atingirá o alvo e terá acontecido a magia de um texto encontrar a pessoa que o justifica. Mas todo texto escrito na internet sonha um dia virar livro. Sites e blogs são etapas, exercícios de aquecimento. Só o livro impresso dá status autoral. O que fazer quando eu tiver mais de dois gigas de textos literários? Está na hora de publicar um livro maior do que Em busca do tempo perdido? Bem, é nesse momento que você pode continuar sendo um escritor iniciante comum ou subir à categoria de iniciante com experiência. Você terá que reduzir essas centenas e centenas de páginas a um formato razoável, que não tome muito tempo de leitura de quem, eventualmente, se interessar por um livro de estréia. Para isso,
você terá de ser impiedoso, esquecer os elogios da mulher e dos amigos e selecionar seu produto, trabalhando duro para que fique sempre melhor.

IV - Considere apenas uma pequenina parte de toda a sua produção inicial, e invista na revisão dela, sabendo que revisar é cortar. O livro está pronto. Não tem mais do que 200 páginas, você dedicou anos a ele e ainda continua um iniciante. Mas um iniciante responsável, pois não mandou logo imprimir suas obras completas com não sei quantos tomos, logo você que talvez nem tenha completado 30 anos. Mas você quer fazer circular a sua literatura de maneira mais formal. Quer o livro impresso. E isso é hoje muito fácil. Você conhece um amigo que conhece uma gráfica digital que faz pequenas tiragens e parcela em tantas vezes. O livro está pronto. E anda sobrando um dinheirinho, é só economizar na cerveja.

V - Gaste todo seu dinheiro extra em cerveja, viagens, restaurantes e não pague a publicação do próprio livro. Se você fizer isso, ficará novamente ansioso para mandar a todo mundo o volume, esperando opiniões que vão comparar o seu trabalho ao dos mestres. O livro impresso, mesmo quando auto-impresso, dá esta sensação de poder. Somos enfim Autores. E podemos montar frases assim: Borges e eu valorizamos o universal. Do ponto de vista técnico, Borges e eu estamos no mesmo nível: produzimos obras impressas; mas a comparação não vai adiante. Então como publicar o primeiro livro se não conhecemos ninguém nas editoras? E aí começa um outro problema: procurar pessoas bem postas em editoras e solicitar apresentações. Na maioria das vezes isso não funciona. E, mesmo quando o livro é publicado, ele não acontece, pois foi um movimento artificial.

VI - Nunca peça a ninguém para indicar o seu livro a uma editora. Se por acaso um amigo conhece e gosta de seu trabalho, ele vai fazer isso naturalmente, com alguma chance de sucesso. Tente fazer tudo sozinho, como se não tivesse ninguém mais para ajudar você do que o seu próprio livro. Sim, este livro em que você colocou todas as suas fichas. E como você só pode contar com ele...

VII - Mande seu livro a todos os concursos possíveis e a editoras bem escolhidas, pois cada uma tem seu perfil editorial. É melhor gastar seu dinheiro com selos e fotocópias do que com a impressão de uma obra que não será distribuída e que terá de ser enviada a quem não a solicitou. Enquanto isso, dedique-se a atividades afins para controlar a ansiedade, porque essas coisas de literatura demoram, demoram muito mesmo. Você pode traduzir textos literários para consumo próprio ou para jornais e revistas, pode fazer resenhas de obras marcantes, ler os clássicos ou simplesmente manter um diário íntimo. O importante é se ocupar. Com sorte e tendo o livro alguma qualidade além de ter custado tanto esforço, ele acaba publicado. Até o meu terminou publicado, e foi quando me tornei um iniciante adulto. Tinha um livro de ficção no catálogo de uma grande editora. E aí tive de aprender outras coisas. Há centenas de livros de iniciantes chegando aos jornais e revistas para resenhas e uma quantidade muito maior de títulos consagrados. E a maioria vai ficar sem espaço nos jornais. E é natural que os exemplares distribuídos para a imprensa acabem nos sebos, pois não há resenhistas para tantas obras.

VIII - Não force os amigos e conhecidos a escrever sobre seu livro. Não quer dizer que eles não possam escrever, podem sim, mas mande o livro e, se eles não acusarem recebimento ou não comentarem mais o assunto, esqueça e não lhes queira mal, eles são nossos amigos mesmo não gostando do que escrevemos. Se um ou outro amigo escrever sobre o livro, festeje mesmo se ele não entender nada ou valorizar coisas que não julgamos relevantes em nosso trabalho. E mande umas palavras de agradecimento, pois você teve enfim uma apreciação. E se um amigo escrever mal de nosso livro, justamente dessa obra que nos custou tanto? Se for um desconhecido, ainda vá lá, mas um amigo, aquele amigo para quem você fez isso e aquilo.

IX - Nunca passe recibo às críticas negativas. Ao publicar você se torna uma pessoa pública. E deve absorver todas as opiniões, inclusive os elogios equivocados. Deixe que as opiniões se formem em torno de seu trabalho, e talvez a verdade suplante os equívocos, principalmente se a verdade for que nosso trabalho não é lá essas coisas. O livro está publicado, você já pensa no próximo, saíram algumas resenhas, umas superficiais, outras negativas, uma muito correta. Você é então um iniciante com um currículo mínimo. Daí você recebe a prestação de contas da editora, dizendo que, no primeiro trimestre, as devoluções foram maiores do que as vendas. Como isso é possível? Vejam quantos livros a editora mandou de cortesia. Eu não posso ter vendido apenas 238 exemplares se, só no lançamento, vendi 100, o gerente da livraria até elogiou – enfim uma vantagem de ter família grande.

X - Evite reclamar de sua editora. Uma editora não existe para reverenciar nosso talento a toda hora. É uma empresa que busca o lucro, que tem dezenas de autores iguais a nós e que quer ter lucro com nosso livro, sendo a primeira prejudicada quando ele não vende. Não precisamos dizer que é a melhor editora do mundo só porque nos editou, mas é bom pensar que ocorreu uma aposta conjunta e que não se alcançou o resultado esperado. Mas que há oportunidades para outras apostas e, um dia, quem sabe...Foi tentando seguir estas regras que consegui ser o autor iniciante que hoje eu sou.



Decálogo do crítico

Por Michel Laub


Ler por obrigação, ganhar pouco, ser odiado por autores criticados ou ignorados por você. Ante tantos dissabores, saiba para que serve, afinal, fazer crítica literária

I - Um bom começo pode ser a leitura de O imperador do vinho, de Elin McCoy, a biografia do americano Robert Parker. Trata-se da figura mais polêmica do universo milionário da enologia. Uma nota alta na The Wine Advocate, sua newsletter, é capaz de enriquecer um fabricante; uma nota baixa pode significar a falência. O olfato de Parker é segurado em cerca de US$ 1 milhão. Ao longo dos anos, percebeu-se que ele gostava de vinhos frutados. Muitas propriedades, até algumas tradicionais da França, passaram a chamar especialistas para estudar o solo, mudar a forma do plantio e da colheita, tudo para colher uvas que originassem vinhos adequados a esse gosto.

II - Saiba que esse talvez seja o exemplo máximo de crítico bem-sucedido no mundo de hoje – rico de fato, influente de fato, uma presença de fato essencial em seu meio. Quase todos os outros profissionais da categoria, trabalhem eles com música, cinema, gastronomia, televisão ou concursos de beleza, estão bem mais próximos da figura descrita por George Orwell em Confissões de um resenhista: “Trinta e cinco anos, mas aparenta cinqüenta(...) [trabalha num] conjugado frio, mas abafado (...). Dos milhares de livros que aparecem todo ano, é quase certo que existam 50 ou 100 sobre os quais teria prazer em escrever. Se for de primeira categoria na profissão, pode conseguir dez ou vinte. É mais provável que consiga dois ou três”.

III - Ou seja, prepare-se para uma atividade enfadonha e mal-remunerada. Você lerá só por obrigação. Nunca mais irá atrás de um livro indicado por um amigo. Nunca mais fechará um livro com a sensação de que, para o bem ou para o mal, não há nada a dizer sobre ele. Porque sempre haverá o que dizer. Se não houver, as contas não são pagas.

IV - Não se preocupe, porém. Há muitos truques para encher essas páginas em branco. Se você quer desancar um livro e não sabe como, recorra a alguns adjetivos algo abstratos em se tratando de literatura, mas ainda assim úteis numa resenha. A timidez, por exemplo. Argumente que o autor não explora suficientemente os conflitos de sua obra. Afinal, explorar conflitos é uma tarefa que não tem fim, e há um momento em que todo autor, por mais extrovertido que seja, precisa parar. Outros chavões sempre à mão: excesso de objetividade,excesso de subjetivismo, excesso de frieza, excesso de dramaticidade. A categoria das “idéias fora de lugar”, deslocada de seu contexto original, também ajuda bastante. Um romance correto, instigante e envolvente pode ser atacado por reproduzir um modelo “burguês” de contar histórias, incompatível com o nosso tempo. Um romance sem essas características pode ser destruído, justamente, por ser mal-escrito e não envolver o leitor.

V - Para o caso contrário, isto é, se você quer elogiar um livro que acha ruim – o das linhas finais do item IV, por exemplo –, há dois recursos clássicos: a) em relação à prosa desagradável, escatológica e/ou ilegível, diga que ela reproduz o incômodo e a irredutibilidade de sentidos do mundo contemporâneo; b) em relação à trama caótica e fragmentária, quando não se entende o que é início, o que é fim e do que é mesmo que estamos falando, afirme que a maçaroca reproduz, como uma “metáfora estrutural”, o caos fragmentário da sociedade pós-industrial.

VI - Usando desses truques, você está pronto para fazer nome devido à afinação com o vocabulário crítico de sua época. Mas se, por um desses acasos raros, você está decidido a realmente dizer o que pensa, há também dois caminhos a seguir. O primeiro é confiar cegamente nos seus juízos pessoais, não temendo a exposição de seus preconceitos íntimos em público. Assim, você terá mais chances de ser considerado um sujeito ranheta, excêntrico e/ou pervertido.

VII - O segundo caminho é considerar-se portavoz de um “sistema”, para o qual são válidas mesmo obras que não são do seu agrado (por questões sociológicas, por exemplo). Mesmo que os motivos sejam nobres – sua humildade para não se considerar o juiz definitivo sobre o que é ou não relevante em termos estéticos –, há boas probabilidades de você ser visto como um crítico sem alma, sem coragem, sem graça.

VIII - Independentemente de sua escolha, é inevitável que você seja desprezado. Todos dirão que seu desejo secreto era ser ficcionista ou poeta, que você é leviano demais, complacente demais, que tem algum interesse obscuro – ascender na carreira, agradar aos pares da universidade, arrumar um(a) namorado(a) – ou está a soldo de alguma entidade obscura – grupos literários rivais, editores, maçons, seitas religiosas, partidos políticos de esquerda (se você escrever numa pequena publicação) ou de direita (se receber salário de alguma corporação de mídia).

IX - Mais que isso: você será odiado. Pelos autores que você desanca. Pelos autores que você ignora. Pelos autores que você elogia (os motivos serão sempre os errados, na opinião deles). Pelos outros críticos. Por boa parte do público, mesmo por aquele que o lê com freqüência.

X - Mas se, apesar de tudo isso, você ainda insiste em abraçar a profissão, é bom se perguntar o motivo. Quando criança, usando o olfato, Robert Parker era capaz de listar todos os ingredientes dos pratos que estavam sendo cozinhados na vizinhança, habilidade que o tornaria um campeão absoluto dos “testes cegos” de identificação de uvas e safras. Isso se chama vocação. É o seu caso? Você se sente preparado para conjugar erudição e capacidade interpretativa em tamanha escala? Sendo a resposta afirmativa, trata-se de uma ótima notícia. Não só para você, que talvez tenha achado um modo honesto de ganhar a vida, mas para o próprio meio literário. Porque não há nada de que ele necessite mais, hoje ou em qualquer tempo: alguém que o ajude a firmar tendências, corrigir rumos, separar o joio do trigo. Diferentemente do que se diz, um crítico autêntico não é apenas o advogado do público. Ele é, em última instância, o maior defensor da própria literatura.

Revista Entre Livros
 

segunda-feira, outubro 22, 2012

Solipstismo

Solipstismo
By Soaroir 22/10/12


 

 
Sede como os rios.
     Sem ligar para as margens.

domingo, outubro 21, 2012

Votar e não Votar, eis a questão


imagem/google



sketch
By Soaroir 21/10/12


“O Poder do Voto”

De forma - “palpável” - mais direta divulgo o choro de um brasileiro cujo link vai acima; o mesmo choro represado em todos os brasileiros sem canais disponíveis para  que a Nação e seus filhos/rmãos nos escutem e se nos respeitem e sigam.
Uns quarenta anos separam o autor deste grito de mim e, no entanto, nada mudou.

O que mais me assombra, além das idiotices lançadas na mídia, é a subestimação de nós, brasileiros, sem opção, quando a legislação democraticamente nos convoca, compulsoriamente a irmos às urnas para eleger para cargos políticos. Eleger este ou aquele que interessa, além do próprio candidato, apenas à minoria que não precisa de CEUS, SUS, AMAS e tantas outras siglas inventadas para, subliminarmente, nos induzir a acreditar que estamos amparados.

Utilizo-me aqui do conhecido bordão do nosso ex-presidente - nunca antes na história deste País – para dizer do meu espanto quando assisto a “chefa” do governo fazer campanha para a eleição de prefeito para o maior estado da União cujo candidato é de seu partido.

Em quê tal atitude difere da “compra de votos” e da do “voto de cabresto” e etc?

Somos obrigados a ir as urnas, mas não a votar...

(brief)
Soaroir 21/10/12

sábado, outubro 20, 2012

Para Depois do Fim do Mundo



Ilustração da Receita
by Soaroir



A Casa de Caçoleta

Quando expressei esta memória estava certa de que ninguém poderia me entender. Surpresa quando depois de mais de 4 anos receber do Jô completa tradução de meu sentimento.
Obrigada, caríssimo!


A casa de Caçoleta

By: Soaroir 12/03/2008


Numa velha máquina Singer ela fantasiava a redondeza para as missas de domingo, até quando a casa se encheu para orar por sua alma.

Código do texto: T897739
Obra licenciada. Vetado copiar em parte ou no todo, criar obras derivadas.(©Soaroir Maria de Campos



18/10/2012 16:50 - Jô do Recanto das Letras


Este texto está direto, descritivo/narrativo, sem meias palavras, sem perdão nem piedade para sentimentos ou pensamentos melífluos, gratificantes, evocativos... E essa dureza prática verbal, esse quase desprezo pelos sentimentos que as palavras irão despertar e apertar no nosso peito, é que o fazem grande. Literatura é isso. Aí o leitor, esse eterno buscador de textos belos, facilmente emocionáveis, se queda, pensa e sente: lembra-se de tia, mãe, avó, bisavó... E percebe um abismo entre esse sentimento pio, dourado, crepuscular - abismo verbal, de palavras quase ríspidas, indiferentes aos alheios anseios, às mães dos outros. E faz aflorar no leitor, esse ser suscetível, impressionável e sempre pronto ao choro diante de bons textos, a exclamação: "Mas isto fala da minha mãe!, só e como fala!" (este meu texto é sem dúvida um rascunho, ao qual voltarei - desculpem a emoção (mãe)

Para o texto: A casa de Caçoleta (T897739)


sexta-feira, outubro 19, 2012

Cecilia Meireles - Modernista

Aniversário - 7 de Novembro


"Motivo


Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.


Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.


Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.


Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada."

Cecilia Meireles
 

quinta-feira, outubro 18, 2012

Homenagem ao Dia do Poeta

Poeta de Minuto
By Soaroir 18/10/12


imagem/prosimetron/google


Para não dizer que sou bruto

Pra tal data, de antemão,

Pago já o meu tributo

E com rogo de perdão

Nesses versos assim solutos

Segue minha exaltação

Aos bardos absolutos

Evoés! Celebração...

quarta-feira, outubro 17, 2012

Maravilha

foto by Tucalipe

 
De negra semente
abre-se de noite
em furta-cores...
 
copyright Soaroir 18/10/12

terça-feira, outubro 16, 2012

Em Algum Lugar do meu Passado - Minimalista



Acareamento
"Ficou em algum lugar do meu passado"

Conto Minimalista
By Soaroir
11/10/12

 



Yesterday, Today and Tomorrow
Gwen Meharg Watercolor - 22 x 30 unframed



- Estás ouvindo? Indagou rompendo o silêncio dos bosques.

- É verdade, ouço ao longe um ruído – e ocultou-se novamente atrás da moita. Ainda, de seu esconderijo, interpelou - há alguma coisa de novo?

- Há, sim, meu caro.

- + #¨*@#"!"

- Compreendo...Mas independe de mim.

O presente pareceu compreender. Mas, devido ao adiantado da hora, e sem mais manifestação, o futuro seguiu lambendo (suas) as impérvias mariolas.


Conto Minimalista
By Soaroir
11/10/12


Este texto faz parte do Exercício Criativo - Ficou em Algum Lugar do Meu Passado
Saiba mais, conheça os outros textos:
http://encantodasletras.50webs.com/ficounopassado.htm

sábado, outubro 13, 2012

segunda-feira, outubro 08, 2012

O Voo da Seagull

Copyright Soaroir de Campos
8/10/12


imagem/http://www.manchester2002-uk.com/maps/lakes.jpg


O dia inteiro, na mansão do Lorde Chanceler, tipica construção do século XVI situada nos arredores de Grasmare, com salas lembrando caramanchões onde os pássaros das árvores desciam sem medo até as floreiras, trabalhava uma jovem de familia, à época, muito humilde, contratada pela governanta Frau von der Dorf para auxiliá-la nos serviços domésticos.

Mary-Anne aprendera a ler com seu pai quando este ainda não havia sido destituido de suas posses como feudatário, o que lhe valia de refrigério nas poucas horas que lhe sobravam para repouso, quando no sótão, à luz do resto de velas que sobravam dos castiçais ela lia o que conseguia emprestado da boa frau Dorf. E assim Mary-Anne começou a descobrir que o mundo ia além do pouco que até então havia conhecido.

Até que frau von der Dorf lhe presenteu com seu poeta preferido, e Mary-Anne a partir de então passou a sonhar com a liberdade cantada nas poesias de William Wordsworth, THE PRELUDE BOOK FIRST - INTRODUCTION--CHILDHOOD AND SCHOOL-TIME.

Certo dia, acobertada pela senhora Dorf, Mary-Anne desceu até a região dos lagos e lá chegando, já à tardinha, sentou-se e se encantou; deu asas ao seu destino e voou, como voa uma seagull, quando do recolher das velas.



Para (4º Desafio Beco dos Poetas)
http://www.becodospoetas.com.br/forum/topic/show?id=2169003%3ATopic%3A423222&xgs=1&xg_source=msg_share_topic

quarta-feira, outubro 03, 2012

Eleição - Contenda no HC

Votamento

By Soaroir 3/10/12


 Recentemente na fila da ginecologia/HC uma senhora, (sic) professora universitária na área da saúde e já aposentada, cuja senha para o atendimento era posterior a minha, entre uma palavra cruzada e outra distribuía santinhos do candidato a prefeito filiado ao PSDB.

Meu humor já tendia a absurdidade e nada comentava, mesmo por que sempre fui do bloco dos que passam a vida repetindo  “não entendo nada de política” até que uma frase arvorada daquela senhora sentada ao meu lado me provocou. “Ele é economista e político brasileiro” - formação economista, profissão político- quanto non-sense, pensei. Mas me segurei até que ela começou a relacionar aqueles feitos que os bens pagos marketeiros produzem sobre os candidatos e a mídia tem a obrigatoriedade de divulgar. Entre outros, ela quase que como em oração bradava, oh.... o que será de São Paulo se o inexperiente  Russomanno ganhar!

 Para melhor entender e para quem eventualmente não saiba, O HC é uma escola e os chefes de equipes os professores e quem nos atende são os “estagiários”, ou residentes como gostam de ser chamados; com raras exceções, aqueles alunos detestam aquelas aulas práticas o que de alguma forma nos deixam impacientes e rusguentos.

 Agora situados, (os senhores)  podem melhor imaginar que ninguém está lá para distração ou visitar o médico de família, muito menos para ouvir reiteração de programa político denegrindo candidato que ninguém ainda sabe do que ele pode fazer por esta cidade que, fora do centro financeiro, cai aos pedaços.

Diante da continuidade daquele discurso explodi quando mais uma vez ela me cutucou e perguntou o que eu achava, respondi: - os inexperientes ainda não aprenderam a roubar.

- Não é bem assim, continuou a senhora a me cutucar, Serra fez isso, aquilo, aquilo outro, insistia.

-Senhora, o que tem isso de novidade? Eles são eleitos para trabalhar e com o nosso dinheiro! Ai fiz menção de me levantar e depois de mais um cutucão:  - de qualquer forma fique com este santinho.

- Não, obrigada. Meu candidato é o Russomanno do PRB. Devolvi o panfletinho sem se quer ler o que lá dizia e sai pensando como seria proveitoso acabar com esta história de segundo turno...


(sem rivisão)

imagem/google

segunda-feira, outubro 01, 2012

Entre a Cuz e a Espada





Saberia eu Senhor, falar de paz? Logo eu católica e filha de Maria
que se confunde diante do que de Vós disseram João e Matheus?

- Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou.
- Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.

Oxalá um dia eu entenda a guerra...

Salaam Aleikum
(Que a paz esteja sobre vós)

Soaroir 01/10/2012

imagem: Cruz de Santiago/fonte/google