As Águas de (um) Janeiro
© Soaroir Maria de Campos
Janeiro 2010
ainda dormem os "tropegantes" na breve aragem do verão,
a sisuda e silenciosa manhã de segunda-feira digladia
com os raios e os trovões no anuviado plenário de São Pedro e São Paulo.
dormem alguns, menos eu, na rede; a chuva fura o compulsório asfalto da metrópole
sobressalteada de esperança por um dia sem fumaças, motores e violências.
timidamente roncam ao longe as engrenagens
competindo com os primeiros gorjeios da enfurecida natureza.
as plantas me caçoam com seus pingos, antes tímidos, que se avolumam
em gargarejos de tormenta que por aqui desaba.
a luz não cessa. Ela persiste e reprisa e se aproxima
com os trovões e a chuva que aperta.
sem pôr de lado um matreiro ludibrio de poeta,
eu viro pássaro entre as nuvens carregadas.
cai do céu a tampa... penso nas ribanças, nos “barranqueiros”
soterrados sob suas casas; nos alagados terreiros;
no trânsito parado entre enguiçados nas águas correntes dos bueiros;
e os dos pontos que marcam um ponto a cada dia
para defenderem irreais 510 de mínimo, máximo para sobreviverem
durante outras tantas feiras.
ainda faltam dez para eu acordar dessa chuva torrencial que cai às seis.
persianas e janelas aos poucos, uma a uma, deixam a luz elétrica passar.
silhuetas nos andares, indecisas, estendem os braços e experimentam o tempo.
lá, embaixo na enxurrada, se vai um cobertor. Entre PET’s, mais um desvalido
encharcado de suas relíquias retiradas dos sobejos de muitos domingos.
chove “cats & dogs” por aqui no alto da Paulista.
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