Lagarta Bezerra
Soaroir 28/3/09
É belo olhar a nossa fotografia
A do passado. É belo até cair de lá.
- Essa ai nasceu pra ser homem, mas mudou de ideia no caminho
Sempre com os cabelos arrepiados como lagarta bezerra, nunca pára
Até parece que tem um bicho carpinteiro;
Joga malha, baleba, pula corda sobe até em goiabeira
Até parece ter parte com macacos ou não teria essa ligeireza.
Quisera descansar, mas preciso fazer o Imposto de Renda
A lista da dispensa, a cama, a comida – aspirar
Ir às compras, digladiar com a economia, com as contas
E as más sucedidas parcerias.
Ainda está emoldurado o retrato de quando eu pequena
A minha mãe fazia.
Nem mesmo eu sabia que aquele negativo
Era só um experimento
Para ser revelado nas cores de hoje em dia.
Mote do dia por Soaroir:
"Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada, a minha aldeia estava morta. Não se via ou ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas. Eu estava saindo de uma festa,.
Eram quase quatro da manhã. Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado. Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada. Preparei minha máquina de novo. Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado. Fotografei o perfume. Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o perdão. Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre. Por fim eu enxerguei a nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com maiakoviski – seu criador. Fotografei a nuvem de calça e o poeta. Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
Mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal."
Manoel de Barros
domingo, março 29, 2009
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