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segunda-feira, julho 05, 2010

Sexto Motivo da Rosa

Soaroir 5/7/10

cinza cimentada era
sem motivos de Cecília
branca, vermelha, nem amarela
foram-se rosas e notílias

solitária em algum jardim
ou de plástico sob a mobília
hoje a rosa vive assim
sem os motivos de Cecília

o que conserva e resume
as notícias de um roseiral 
não é da flor o perfume
é o ser rosa virtual

e mesmo assim ainda brilha
o olhar de qualquer mortal
com as rosas de Cecília
e as deixadas no portal...


MOTE: a lucidez das rosas...
4º Motivo da Rosa
Cecília Meireles

Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.


"Os Cinco Motivos da Rosa

Primeiro Motivo da Rosa


Vejo-te em seda e nácar,
e tão de orvalho trêmula,
que penso ver, efêmera,
toda a Beleza em lágrimas
por ser bela e ser frágil.

Meus olhos te ofereço:
espelho para face
que terás, no meu verso,
quando, depois que passes,
jamais ninguém te esqueça.

Então, de seda e nácar,
toda de orvalho trêmula, serás eterna.

E efêmero o rosto meu, nas lágrimas
do teu orvalho... E frágil.


Segundo Motivo da Rosa
(a Mário de Andrade)

Por mais que te celebre, não me escutas,
embora em forma e nácar te assemelhes
à concha soante, à musical orelha
que grava o mar nas íntimas volutas.

Deponho-te em cristal, defronte a espelhos,
sem eco de cisternas ou de grutas...
Ausências e cegueiras absolutas
oferece às vespas e às abelhas.

E a quem te adora, ò surda e silenciosa,
e cega e bela e interminável rosa,
que em tempo e aroma e verso te transmutas!

Sem terra nem estrelas brilhas, presa
a meu sonho, insensível à beleza
que és e não sabes, porque não me escutas...


Terceiro Motivo da Rosa

Se Omar chegasse
esta manhã,
como veria a tua face

Omar Khayyam,
tu, que és de vinho
e de romã,
e, por orvalho e por espinho,
aço de espada e Aldebarã?

Se Omar te visse
esta manhã,
talvez sorvesse com meiguice
teu cheiro de mel e maçã.
Talvez em suas mãos morenas
te tomasse, e disesse apenas:
"É curta a vida, minha irmã".

Mas por onde anda a sombra antiga
do âmago astrônomo do Irã?

Por isso, deixo esta cantiga
- tempo de mim, asa de abelha -
na tua carne eterna e vã,
rosa vermelha!

Para que vivas, porque és linda,
e contigo respire ainda
Omar Khayyam


Quarto Motivo da Rosa

Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.


Quinto Motivo da Rosa

Antes do teu olhar, não era,
nem será depois, - primavera.
Pois vivemos do que perdura,

não do que fomos. Desse acaso
do que foi visto e amado:- o prazo
do Criador na criatura...

Não sou eu, mas sim o perfume
que em ti me conserva e resume
o resto, que as horas consomem.

Mas não chores, que no meu dia,
há mais sonho e sabedoria
que nos vagos séculos do homem."

Cecília Meireles - Ed. Nova Aguilar





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