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sábado, dezembro 08, 2007

Das chuvas de Bandeira

© Soaroir Maria de Campos
8/12/07 14:16 "Chuva"


Por cima da ribanceira vejo a chuva que ainda cai

Encharca chãos e soleiras em enxurrada e corredeira

Estrondam trovoadas sobre as minguadas raízes das cidades

Diferente da bucólica chuva de Bandeira.

A chuva que ainda cai não é a mesma chuva caída

Sonora nas vermelhas telhas de barro das cumeeiras

Escoando para a terra funda e bolindo com as folhagens.

É chuva no asfalto. Não é mais a chuva regadeira.

Sua voz é mais selvagem não lembra canções de aias

Sem ter aonde ir, chuva, hoje, é só água traiçoeira.



"Enquanto a Chuva Cai"
Manuel Bandeira

A chuva cai. O ar fica mole . . .
Indistinto . . . ambarino . . . gris . . .
E no monótono matiz
Da névoa enovelada bole
A folhagem como o bailar.

Torvelinhai, torrentes do ar!

Cantai, ó bátega chorosa,
As velhas árias funerais.
Minh'alma sofre e sonha e goza
A cantilena dos beirais.

Meu coração está sedento
De tão ardido pelo pranto.
Dai um brando acompanhamento
À canção do meu desencanto.

Volúpia dos abandonados . . .
Dos sós . . . — ouvir a água escorrer,
Lavando o tédio dos telhados
Que se sentem envelhecer . . .

Ó caro ruído embalador,
Terno como a canção das amas!
Canta as baladas que mais amas,
Para embalar a minha dor!

A chuva cai. A chuva aumenta.
Cai, benfazeja, a bom cair!
Contenta as árvores! Contenta
As sementes que vão abrir!

Eu te bendigo, água que inundas!
Ó água amiga das raízes,
Que na mudez das terras fundas
Às vezes são tão infelizes!

E eu te amo! Quer quando fustigas
Ao sopro mau dos vendavais
As grandes árvores antigas,
Quer quando mansamente cais.

É que na tua voz selvagem,
Voz de cortante, álgida mágoa,
Aprendi na cidade a ouvir
Como um eco que vem na aragem
A estrugir, rugir e mugir,
O lamento das quedas-d'água!

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