(rascunho - especie de resposta ao poema Tempo, de Adélia Prado)
by Soaroir 28/12/08
Como muita gente eu venho vindo
Não chego a ser uma estrela cadente
um carro possante ou água nas vertentes
embora veja o horizonte se distanciando
Continuo pra frente, correndo, mais andando,
e olhando os passantes; os chegantes ignorantes
da faca e do queijo que têm nas jovens mãos;
de seus poderes, dos riscos e das fomes do mundo.
Não sou mais “moça”, “tia”. Agora sou “dona”.
O “Veja bem mocinha...” Já vai longe. Ainda bem.
Agora de cadeira, modéstia à parte, nessa arte
do nascer e viver garanto o meu direito adquirido
de envelhecer, ser ranzinza ou tolerante
com os famintos que logo-logo me chamarão de “vó”.
Mote: "Não quero faca, nem queijo. Quero a fome."
"Tempo"
Adélia Prado
A mim que desde a infância venho vindo
como se o meu destino
fosse o exato destino de uma estrela
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.
Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo
vão me chorar e esquecer.
Vinte anos mais vinte é o que tenho,
mulher ocidental que se fosse homem
amaria chamar-se Eliud Jonathan.
Neste exato momento do dia vinte de julho
de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio.
Quarenta anos: não quero faca nem queijo. Quero a fome
terça-feira, dezembro 30, 2008
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