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terça-feira, dezembro 02, 2008

Meu Irmão por Parte de Pai

"Começar de Novo"
© Soaroir
Dezembro 01/08


Há muito estou perdido de minha terra distante,
Escorraços agarrocharam-me nas entranhas...
Tenho fome. Por favor, um prato de comida.
Ouvido, logo ali do outro lado
Fui levado como convidado.
Acomodado, com direito a bandeja,
Sobremesa, guardanapo e talheres...
De novo fui escorraçado:
“Aqui não pode entrar.”
“Vá pro inferno mulher,
Este Homem é meu convidado!”
“Ah, neste caso, rapidinho preparo
Para ele uma quentinha.”
“Não! Ele é mais um cliente
Como eu ou outro qualquer… ”
...
…Vitualhas para o irmão distante...
Sim, necessitado...
Este ao seu lado só pede comer
Voltar para a sua terra
Aonde é mais respeitado.

Meu endereço é no aí de São Paulo
onde eu posso ser encontrado.


Mote do dia: "Começar de novo""(Há alguns anos, numa grande enchente na Argentina um anônimo escreveu isto)
Eu tinha medo da escuridão
Até que as noites se fizeram longas e sem luz
Eu não resistia ao frio facilmente
Até passar a noite molhado numa laje
Eu tinha medo dos mortos
Até ter que dormir num cemitério
Eu tinha rejeição por quem era de Buenos Aires
Até que me deram abrigo e alimento
Eu tinha aversão a Judeus
Até darem remédios aos meus filhos
Eu adorava exibir a minha nova jaqueta
Até dar ela a um garoto com hipotermia
Eu escolhia cuidadosamente a minha comida
Até que tive fome
Eu desconfiava da pele escura
Até que um braço forte me tirou da água
Eu achava que tinha visto muita coisa
Até ver meu povo perambulando sem rumo pelas ruas
Eu não gostava do cachorro do meu vizinho
Até naquela noite eu o ouvir ganir até se afogar
Eu não lembrava os idosos
Até participar dos resgates
Eu não sabia cozinhar
Até ter na minha frente uma panela com arroz e crianças com fome
Eu achava que a minha casa era mais importante que as outras
Até ver todas cobertas pelas águas
Eu tinha orgulho do meu nome e sobrenome
Até a gente se tornar todos seres anônimos
Eu não ouvia rádio
Até ser ela que manteve a minha energia
Eu criticava a bagunça dos estudantes
Até que eles, às centenas, me estenderam suas mãos solidárias
Eu tinha segurança absoluta de como seriam meus próximos anos
Agora nem tanto
Eu vivia numa comunidade com uma classe política
Mas agora espero que a correnteza tenha levado embora
Eu não lembrava o nome de todos os estados
Agora guardo cada um no coração
Eu não tinha boa memória
Talvez por isso eu não lembre de todo mundo
Mas terei mesmo assim o que me resta de vida para agradecer a todos
Eu não te conhecia
Agora você é meu irmão
Tínhamos um rio
Agora somos parte dele
É de manhã, já saiu o sol e não faz tanto frio
Graças a Deus
Vamos começar de novo.

Anônimo"

Um comentário:

Pod papo - Pod música disse...

Excelente postagem.
Realmente essas tragédias nos ensinam muitas lições, uma delas é que por mais que nossa vida esteja estável, algo pode mudar e temos que estar com o coração forte e preparado e não nos apegar à coisas sem importância, são nessas tragédias que as pessoas percebem que responsabilidade social é um dever de todos, o governo sozinho não vai conseguir reconstruir a vida de tantas pessoas, o povo inteiro tem que dar as mãos. Só assim poderemos começar denovo.

Beijão!!!